sábado, 30 de junho de 2012



                                VIVENDO SOB ESCOMBROS




Quero lhe contar uma história de violações da dignidade humana

Certa vez, conta a história, em 1755, Lisboa sofreu um violento terremoto, dizimando milhares de pessoas e, como medida de emergência, o Marquês de Pombal, então Ministro de D. José I (Rei de Portugal), determinou severamente:

"Enterrem os mortos, cuidem dos vivos e fechem os portos"

Duras palavras, porém necessárias.

A alma humana também é região propicias a tais abalos e quando eles acontecem, achamos que não os merecemos.

Comparo a violência sexua a um desses abalos de grande magnitude que nos acometem de súbito. É muito difícil sobreviver a situações tão inóspitas. Acreditamos que seja tarefa penosa demais e que não suportaremos tamanha dor.

Ela passou por estágios de negação, revolta, medo, culpa, angústia...Desespero. E enquanto não chegou ao estágio da "aceitação da realidade", viu seu cotidiano destruído.

Realmente, penso não ser nada fácil focar o futuro quando tudo ao nosso redor desmorona. 

Sim, foi dessa forma que ela se sentiu, como se estivesse vivendo sob escombros. Acreditou que seus sonhos, ideais e planos traçados melimetricamente, ficaram soterrados.

Nesses momentos que se seguiram ao evento traumático, ela acreditou que nào sairia jamais dos escombros e que nào haveria salvação para seus tormentos. 

As horas para ela se passavam sem qualquer importância e a sensação de sufocação foi imapactante, porque teve medo de denunciar seu agressor, mantendo, dessa forma, o doloroso pacto do silêncio.

Ela sentia vontade de gritar e não podia porque o medo lhe assombrava a alma, mas quando conseguia, era sempre um grito que soava pra dentro. 

Penso que quando se é vítima desta agressão, sente-se que a força (energia física) e a coragem (energia moral) começam a se esvair da pessoa e tem-se a nítida impressão de que não se sobrevirá a esse doloroso abalo.

Ela imaginou que esse tormento nunca teria fim, o que não é verdade.

Quando se descobre, mediante a dor, que dentro de nós não existem apenas a força e a coragem que nos sustentam a vida. Existe também a fé que, em decorrência dos percalços da vida, muitas vezes negamos a sua existência. 

A fé que descrevo, não é apenas a crença no sagrado, mas também em nosso eu mais profundo, ou ainda nas pessoas que estão prontas a nos ajudar (com todos os mecanismos que nos têm a oferecer). Esse sentimento de ajuda se traduz nos apoios terapêuticos e na lei de proteção as mulheres vítimas de violência doméstica.

Esse sentimento de acolhimento pode nos socorrer das ruínas de nossa alma e corpo, fazendo-nos reencontrar o sentido da vida e o brilho nos olhos que, outrora, frente a grande dor, perdemos.

Lembre-se: Reconstruir para recomeçar é a tarefa de todos aqueles que sofrem abalos dessa natureza.

E quando alguém se encontrar no epicentro de um terremoto dessa magnitude, lembrem-se das palavras do Marques, para podermos compreender que:

"Enterrar os mortos" é, sem dúvida, parar de explorar a tragédia e de se recriminar por ela.

"Fechar os portos" é se fortalecer para uma nova vida. É impedir que novos problemas sobrevenham enquanto curamos nossas feridas. É manter o foco na reconstrução!

"Cuidar dos vivos" é tomar conta do presente e ter cuidado com o que restou. É valorizar o que há de melhor em nossas vidas. É resgatar, das aflições sofridas, a força que nos conduzirá para dias melhores.

Depois dessa longa jornada sob os escombros, que você, querida leitora, possa ser capaz de erguer um lindo monumento em sua alma, edificando um dois sentimentos mais nobres que existem no ser humano: A coragem e a paz interior.

Que possamos abraçar com carinho as vítimas dessa dolorosa violência, que mesmo no silêncio, conseguiram traduzir suas dores.

A violência sexual é uma das maiores agressões à dignidade humana. Denuncie. E que o respeito seja um imperativo em todos os lares.

Ana Sá Peixoto

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